Ter dó sugere distância, e até uma certa condescendência. Com frequência, eu atuo por dó. Dou algum dinheiro de esmola a algum pedinte numa avenida, mas não olho para ele – olhos nos olhos; não me sento ao seu lado nem falo com ele.
Estou demasiado ocupado para prestar realmente atenção à pessoa que me estende a mão. O meu dinheiro substitui a minha atenção pessoal e representa uma desculpa para continuar o meu caminho.
Ter compaixão significa aproximar-se de quem sofre. Mas só podemos nos aproximar de uma outra pessoa quando estamos dispostos a nos tornar vulneráveis. Uma pessoa compassiva diz: “Eu sou seu irmão; eu sou sua irmã; eu sou humano, frágil e mortal; precisamente como você. Não me escandalizo com as suas lágrimas nem tenho medo da sua dor. Também eu já chorei”. Só podemos estar com o outro quando o outro deixa de ser “outro” para se tornar como nós.
Esta talvez seja a principal razão porque, por vezes, achamos mais fácil ter dó que compaixão. A pessoa que sofre apela para que nós nos tornemos conscientes do nosso próprio sofrimento. Como posso reagir à solidão de alguém se eu não estiver em contato com a minha própria experiência de solidão? Como posso estar perto de pessoas deficientes se recuso reconhecer as minhas próprias deficiências? Como posso estar com os pobres se não estou disposto a confessar a minha própria pobreza?
Quando reflito sobre a minha própria vida, compreendo que os momentos de maior conforto e consolação foram os momentos em que alguém disse: “Eu não posso tirar de você o sofrimento, não posso oferecer uma solução ao seu problema, mas posso prometer que não deixarei você sozinho e estarei ao seu lado tanto tempo e tão bem quanto me for possível”.
Há muita angústia e sofrimento na nossa vida, mas que bênção quando não temos que viver a nossa angústia e sofrimento sozinhos!
Esse é o dom da compaixão.
Aprendendo cada vez mais com o Henri Nouwen