É gota a gota, uma pedra a menos de cada vez, que a igreja se aproxima da visão madura, gentil e desiludida que Jesus abraçava a respeito do sexo.
Pouco a pouco a igreja admite que aquilo que o respeito à norma sexual não tem poder para fazer – o poder de nos distinguir e de fazer de nós gente admirável, – nosso respeito pelas relações interpessoais pode conseguir.
Porque, para Jesus, o mandamento que não pode ser contornado é amar, e amar é colocar as relações interpessoais – gente humana em relações humanizadas – acima de qualquer legislação e de qualquer rótulo.
O que nos distingue não é se somos samaritanos, judeus, adúlteros ou heterossexuais, mas a medida de amor e de aceitação que somos capazes de oferecer a quem não é como nós. O que nos distingue é nossa capacidade de abrir mão das distinções convencionais.
Foi isso que experimentou meu amigo José Barbosa Junior quando assistiu com sua esposa, há alguns dias, o casamento entre dois homens. Há alguns anos, um casal de homossexuais ganhar a benção de gente cristã seria coisa tão improvável quanto ver há dois mil anos um homem judeu puxando conversa com uma mulher samaritana, um fariseu deixando a lei de lado para reconhecer a supremacia do amor ou uma comunidade judia reconhecendo que os gentios não precisam se deixar circuncidar para serem acolhidos pelo divino abraço.
Caminhamos não a partir daquilo que vemos, mas a partir de como vemos.
Titulo original: O SEXO NIVELADOR E SEM ILUSÕES, COMO O ENXERGAVA JESUS